Venho percebendo
o quanto nos queixamos da falta de diálogo em família. Não é que o pai e a mãe,
os pais e os filhos, os irmãos não falem entre si: todos se queixam de falta de
tempo, porém há muito tempo disponível para os jogos e redes sociais no celular,
vídeo-games, aquela novela na televisão, happy hours diários ou qualquer outra
coisa que afaste as pessoas de se sentarem e conversarem, pois isso é muito
chato, não é?! Além do que, as famílias são eternas, não é mesmo?! “Amanhã eu
sento para conversar com eles...”. Cuidado: são eternas porque estamos
acostumados a ver todos ali em todos os dias. Quando morre alguém, lembramos do
que não fizemos, de tantas oportunidades perdidas!
Pense em seus
amigos, conhecidos, colegas de trabalho ou de faculdade. Entre eles, quantas foram
as famílias que terminaram por falta de diálogo? Quantos relacionamentos entre
pais e filhos não foram arruinados por isso? Quantos casamentos não foram por
água abaixo?
Você quer melhorar o relacionamento com seus pais, irmãos, tios...
família? É necessário aprender a arte de dialogar.
Que tal começar abrindo um bom espaço no próprio tempo para,
simplesmente, ficar e ouvir. Você já parou para pensar como é gostoso ser
ouvido? Escutar é a primeira condição para poder começar um diálogo, porque
ouvir nos concede maior intimidade, e revela interesse pela dor e cansaço do
outro. Em duas palavras: compaixão e empatia.
Dialogar em família é disponibilizar nosso coração para o acolhimento,
para o abraço e afeto. Dialogar não é sempre doar. Na maioria das vezes é
permitir, receber. Imagine seu pai abrindo o coração, a vida, as angústias e
esperanças. Como bom ouvinte, me interessa o que ele diz, o que ele é, o que
sonha e o que ama. Quando sou bom ouvinte, a recíproca se torna verdadeira, e o
diálogo vira hábito enriquecedor, que leva todos ao caminho do crescimento e
desenvolvimento. Todos se sentem felizes e apoiados. A família é nossa base.
Queixamos-nos
tanto de falta de tempo, de grandes distâncias – apesar da modernidade, e temos
por consequência um eterno vazio no peito. Encontrar tempo para ouvir significa deixar de lado outras coisas que
nos interessam muito, mas que não são tão importantes.
Hoje
nos tornamos escravos de nós mesmos, de nossos vícios, de nosso egoísmo,
preenchemos nosso “tempo livre” com assuntos que nos impacientam, nos curvam,
nos esmagam. Vivemos angustiados, depressivos, com um peso enorme nas costas.
Procuramos
formas de dialogar em casa, de nos aproximarmos das pessoas, mas em contrapartida
permanecemos com as mesmas atitudes – que fatalmente levarão ao mesmo resultado.
Diante daquela frase tão famosa do Dalai Lama “Seja a mudança que quer ver no
mundo”, entendo que essa mudança pode começar aqui dentro de nosso coração, e
em seguida, em família.
Às
vezes, é necessário renunciar, deixar, apagar certos hábitos improdutivos, que
transformamos em rotina, para salvar a família, o casamento, o relacionamento
com seus filhos. E se começar por você essa mudança, sentando com sua esposa ou
o marido, chamar os filhos e criar um clima para a escuta? O que for deixado de
lado será sempre menos importante do que o amor entre a família. Vale repetir:
família é a base do ser humano.
Pode
ser que você tenha de “sacrificar” uma partida de seu time, o capítulo final de
uma novela, a série que tanto gosta ou aquele jogo no celular.
Mas você
sabe por onde começar um diálogo em casa? Basta abrir um pouco os olhos e
observar que há muito a dizer. Hoje você pode chegar do trabalho e contar
alguma aventura que ocorreu por lá. Amanhã, dividir algo que viu em um programa
de TV, ou livro que tenha lido. Não são poucas as famílias nas quais os pais
contam aos filhos um filme que acabam de ver, ou uma viagem interessante que
fizeram quando eram jovens, ou a história do avô. E os pequenos? Pergunte a
eles como foi o dia na escola, o futebol, a aula de dança. Peça para ver seus
cadernos, brinque com eles, assistam a algum desenho animado juntos. Participe
de suas aventuras, suas descobertas.
E os
adolescentes, que apesar de deixarem muitas vezes seus pais e avós de cabelo em
pé, podem deixá-los também perplexos quando expõem reflexões que dão muito que
pensar pelo radicalismo e o desejo de justiça que são próprios desses jovens
adultos. E são eles também que necessitam de uma palavra de conselho na hora de
escolher uma carreira, de optar por um trabalho, de começar a sair com um garoto
ou garota que possivelmente amanhã poderá ser o seu marido ou a sua esposa.
Quantos e quantos papos não poderiam existir entre vocês, de suas experiências e
medos. Imagine que gostoso ter o prazer de contar a seus netos as histórias de
sua juventude.
Experimente
o prazer de unir toda a família em uma mesa de jantar, não importa se há
fartura ou não, se há luxo ou simplicidade. Experimente um dia desligar a chave
geral de eletricidade da casa, reúna toda a família no quarto maior, iluminado apenas
pela luz de uma vela, Lá, ouça e fale com eles. Essa ação pode economizar na
conta de luz, e trará muitos ganhos na conta do amor familiar. E esse não tem
preço no mercado.
Com amor,
Queli Rodrigues